"A universidade, por outro lado, não o seduziu. Ao terminar os estudos no liceu, ele tentou a advocacia, que era uma carreira promissora para uma família por onde haviam passado muitos 'doutores' dedicados à política. Mas logo percebeu que esse ambiente o asfixiava e abandonou o curso no primeiro ano. Terminou encontrando sua verdadeira vocação na atividade política e social, à qual se dedicou nos anos seguintes" (p.19).
"Eu não passei 14 anos na prisão por ser um herói, mas apenas porque me capturaram, porque me faltou velocidade para atirar. Foi minha vez de perder, e até que tive sorte. Aos quixotes que se metem a transformar o mundo, o mínimo que pode acontecer é isso" (p.32).
"A falta de comunicação e os maus-tratos foram minando sua saúde mental. Mujica começou a ter alucinações, a conversar com as rãs, que tratava como bichos de estimação, e a escutar as formigas gritando. Nesses momentos, quando estava quase chegando ao fundo do poço, ele se agarra ao espírito inabalável legado por sua mãe. Uma história, que depois ficou famosa, conta que sua mãe tentou lhe entregar um penico de plástico com dois patinhos, para que ele pudesse usar durante suas urgências urinárias. Mujica pediu obstinadamente e conseguiu receber o penico, que havia sido confiscado pelos guardas. Ele se agarrou a esse artefato como uma tábua de salvação e conseguiu levá-lo consigo todas as vezes que foi transferido para outras prisões. Havia conquistado um direito que lhe devolvia a dignidade e o trazia de volta à realidade. Quando foi libertado, Mujica saiu da prisão abraçado a seu penico, a essa altura transformado em um vaso de flores" (p.35-36).
"E quem está a favor do aborto como princípio? (...) Mas há várias mulheres que se veem na amargura de ter que tomar essa decisão contra todas as adversidades (...) e a tomam independentemente das discussões que os políticos e os filósofos possam ter. Eu acho que reconhecer a existência desse fato, colocá-lo em cima da mesa legalizando-o, nos dá a oportunidade de poder trabalhar para evitar a decisão dessas mulheres, e se há uma questão econômica, uma questão de solidão, uma questão de angústia, os fatos nos mostram que muitas mulheres mudam de ideia e mais vidas podem ser salvas. A outra possibilidade, que é deixá-las isoladas em meio ao seu drama, me parece um tanto hipócrita" (p. 60-61).
"O casamento gay, por favor, é mais velho que o mundo. Tivemos Júlio César, Alexandre, O Grande. Dizem que é moderno, mas é mais antigo que todos nós. É uma realidade objetiva. Existe. Não legalizá-lo seria torturar as pessoas inutilmente" (p.61).
"A ciência moderna ainda não produziu um tranquilizante tão eficaz quanto umas poucas palavras bondosas" (p.118).
"Se acham que podem deter os pobres com cercas, estão fritos! Os pobres são maioria e os ventres deles vomitam filhos" (p.145).
"Quando você vai comprar algo, não está comprando com dinheiro. Está comprando com o tempo de sua vida que precisou gastar para ganhar esse dinheiro. Você compra um negócio qualquer e está pagando com a sua vida. É preciso ser mais avarento, é preciso cuidar da vida" (p.175).
PERCY, Allan; DÍAZ, Leonardo. Pepe Mujica. Simplesmente humano. Rio de Janeiro: Sextante, 2015.
Preço estimado: R$ 25.
