Fragmentos da apresentação de Arthur Ituassu , prof.do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio
(...) Hall tomou seu lugar na tradição dos estudos que analisam os efeitos da mídia nas sociedades e constitui o que chamou de politics of the image, uma "política da imagem", os questionamentos e as disputas sobre o que a imagem representa. Afinal, um dos efeitos claros dos aparatos midiáticos é constituir um espaço autônomo (em boa parte imagético) de visibilidade pública (Gomes, 2004), onde políticos, atores, jogadores, celebridades e até mesmo instituições ascendem e descendem, nascem e morrem, muitas vezes de maneira bastante veloz.
Nesse contexto, Stuart Hall procurou entender o papel da mídia nas sociedades, posicionando os estudos culturais como uma epistemologia não positivista para os media effects e tendo a "representação" como seu conceito central. Uma noção de "representação", no entanto, que se afasta da visão comum (metafísica) de "reflexo", "verdade por correspondência", que informa a ciência moderna como "comprovação positiva da verdade" ou "positivismo" (Oliva, 2011), e se aproxima de uma perspectiva mais ativa e constitutiva sobre o ato representativo, nos processos de construção da realidade.
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Como um construtivista, Stuart Hall viu o "real" como uma "construção social", amplamente marcada pela mídia e suas imagens nas sociedades contemporâneas. Como um teórico mais crítico, procurou, por meio de Foucault, entender como o poder se insere, se coloca ou que papel exerce nesse processo. Inserido em uma longa linha de estudos que passa por Durkheim, Saussure, Barthes, Foucault e Derrida, Hall apresenta uma noção de representação como um ato criativo, que se refere ao que as pessoas pensam sobre o mundo, sobre o que "são" nesse mundo e que mundo é esse, sobre a qual as pessoas estão se referindo, transformando essas "representações" em objeto de análise crítica e científica do "real".
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Stuart Hall sugere o "interrogatório da imagem", um exame, um questionamento da e à imagem, sobre os valores contidos na imagem e além dela. A perspectiva parte do pressuposto de que vivemos hoje imersos no mundo das imagens, as fish in the water - tomando emprestada a frase de Marshall McLuhan (1971). Kantianamente, os estudos culturais de Stuart Hall procuravam sair da água e olhar o mundo do alto, para examinar o conteúdo das águas.
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Stuart Hall foi um acadêmico negro, vindo da Jamaica, que analisou criticamente a representação do negro nas imagens do capitalismo e do imperialismo britânico. Nesse contexto, não há dúvidas de que a questão da "emancipação", bastante cara à perspectiva crítica, ganha a devida importância.
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Fragmento da INTRODUÇÃO:
"(...) Mas o que a representação tem a ver com "cultura"? Que conexão existe entre "representação" e "cultura"? Colocando em termos simples, cultura diz respeito a "significados compartilhados". Ora, a linguagem nada mais é do que o meio privilegiado pelo qual "damos sentido" às coisas, onde o significado é produzido e intercambiado. Significados só podem ser compartilhados pelo acesso comum à linguagem. Assim, esta se torna fundamental para os sentidos e para a cultura e vem sendo invariavelmente considerada o repositório-chave de valores e significados culturais. (...) Mas como a linguagem constrói significados? Como sustenta o diálogo entre participantes de modo a permitir que eles construam uma cultura de significados compartilhados e interpretem o mundo de maneira semelhante?
(...) A linguagem é capaz de fazer isso porque ela opera como uma sistema representacional. Na linguagem, fazemos uso de signos e símbolos - sejam eles sonoros, escritos, imagens eletrônicas, notas musicais e até objetos - para significar ou representar para outros indivíduos nossos conceitos, ideias e sentimentos. A linguagem é um dos "meios" através do qual pensamentos, ideias e sentimentos são representados numa cultura. A representação pela linguagem é, portanto, essencial aos processos pelos quais os significados são produzidos - e é esta a ideia primordial e sbjacente que sustenta este livro. (...)
SUMÁRIO
Capítulo I - O PAPEL DA REPRESENTAÇÃO
1 - Representação, sentido e linguagem
2 - O legado de Saussure
3 - Da linguagem à cultura: da linguística à semiótica
4 - Discurso, poder e o sujeito
5 - Onde está o sujeito?
6 - Conclusão: representação, sentido e linguagem reconsiderados
Capítulo II - O ESPETÁCULO DO "OUTRO"
1 - Introdução
2 - Racializando o "Outro"
3 - A encenação da "diferença" racial: "e a melodia demorou-se..."
4 - A estereotipagem como prática de produção de significados
5 - Contestação de um regime racializado de representação
6 - Conclusão
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Editora APICURI / PUC-Rio - 2016
260 páginas
Preço aproximado: R$ 39,00

